O impacto dos fármacos nos recursos hídricos do Brasil

O impacto dos fármacos nos recursos hídricos do Brasil é uma preocupação crescente devido aos potenciais efeitos adversos que esses compostos podem ter nos ecossistemas aquáticos.

Os fármacos, que incluem medicamentos de uso humano e veterinário, podem entrar nos recursos hídricos de várias maneiras, como descarte inadequado de medicamentos vencidos ou não utilizados.

Esses produtos farmacêuticos contêm substâncias químicas ativas que podem persistir no meio ambiente por longos períodos.

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O cenário da presença de fármacos nos recursos hídricos do Brasil

Uma pesquisa realizada por meio de análises em amostras de água de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), em Jaboticabal–SP, identificou a presença de substâncias farmacológicas e de cafeína em águas superficiais, que servem como fonte para o consumo humano.

Esses dados demonstram a realidade da presença de fármacos nos recursos hídricos e como isso pode chegar até a população brasileira.

Segundo os pesquisadores, mesmo com níveis baixos, a presença desses fármacos podem causar problemas para o ambiente aquático e para as pessoas.

Já outro dado, da Brasil Health Service (BHS), em 2010, apontava que cerca de 1 kg de remédio descartado no esgoto pode contaminar até 450 mil litros de água.

Esses dados são alarmantes e reiteram a importância do descarte correto dos fármacos.

Quando falamos em escala global, um estudo da Universidade de York, no Reino Unido, demonstrou que princípios como paracetamol, nicotina, cafeína e medicamentos para epilepsia e diabete foram encontrados nos rios, mundo afora.

Quais impactos dos fármacos nos recursos hídricos?

Os produtos farmacêuticos contêm substâncias químicas ativas que podem persistir no meio ambiente por longos períodos de tempo. Alguns desses compostos podem ser biodegradáveis, enquanto outros são persistentes e podem se acumular ao longo do tempo.

Os impactos dos fármacos nos recursos hídricos englobam:

  1. Toxicidade para organismos aquáticos

Muitos fármacos podem ser tóxicos para organismos aquáticos, afetando peixes, invertebrados e microorganismos que compõem os ecossistemas aquáticos.

Isso pode levar a mortes de animais aquáticos e perturbação dos ecossistemas.

  1. Desenvolvimento de resistência antimicrobiana

A presença de antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos nos recursos hídricos pode promover o desenvolvimento de resistência antimicrobiana em bactérias presentes no ambiente aquático.

As consequências para a saúde pública são grandes, tornando as infecções bacterianas mais difíceis de tratar.

  1. Alterações no comportamento e metabolismo de espécies aquáticas

Alguns fármacos podem alterar o comportamento e o metabolismo de organismos aquáticos, afetando sua capacidade de sobrevivência e reprodução.

Medicamentos anticoncepcionais, por exemplo, ao contaminar os rios, interfere na reprodução das espécies aquáticas.

  1. Reingestão humana através da cadeia alimentar

Os fármacos presentes nos recursos hídricos podem então ser absorvidos por organismos aquáticos, como peixes e moluscos, que os acumulam em seus tecidos. Assim, quando os seres humanos consomem esses organismos como parte de sua dieta, eles estão sujeitos a reingestão dos fármacos. Isso pode representar riscos à saúde, especialmente se os fármacos tiverem efeitos adversos a longo prazo.

  1. Reingestão da água

Os fármacos também podem entrar diretamente nas fontes de água potável devido à ineficiência dos sistemas de tratamento de água em remover completamente esses produtos químicos. Mesmo que os sistemas de tratamento de água removam uma porcentagem significativa de substâncias farmacêuticas, pequenas quantidades ainda podem permanecer na água potável. 

Ou seja, isso significa que as pessoas estão constantemente reingestando pequenas quantidades de fármacos através do consumo de água da torneira, o que pode representar um risco à saúde a longo prazo, especialmente quando se trata de exposição crônica a múltiplos fármacos.

A complexidade do problema dos fármacos nos recursos hídricos do Brasil

A complexidade da contaminação dos recursos hídricos por fármacos é evidente em diversos aspectos, desde a presença desses compostos na urina e fezes humanas até os desafios enfrentados na implementação de soluções eficazes nos sistemas de tratamento de esgoto, especialmente em países como o Brasil, onde tais sistemas muitas vezes são precários.

Estudos têm demonstrado consistentemente a presença de uma ampla variedade de fármacos na urina e fezes humanas. Por exemplo, uma pesquisa publicada no periódico “Environmental Science & Technology” em 2019 revelou que a maioria das pessoas excreta uma variedade de fármacos em sua urina, incluindo analgésicos, antidepressivos, antibióticos e hormônios. Além disso, estudos epidemiológicos têm mostrado que esses compostos podem permanecer ativos após o metabolismo humano, sendo excretados e, eventualmente, chegando aos sistemas de água.

No entanto, a remoção eficaz de fármacos nas estações de tratamento de esgoto apresenta desafios significativos, especialmente em países onde a infraestrutura de tratamento de água e esgoto é deficiente. No Brasil, muitas estações de tratamento de esgoto não foram projetadas para remover eficientemente substâncias farmacêuticas da água residual. Isso se deve a uma combinação de fatores, incluindo falta de investimento em infraestrutura, tecnologia desatualizada e padrões de regulação mais flexíveis.

Além disso, a diversidade de fármacos e a complexidade de suas estruturas químicas apresentam um desafio adicional para a remoção eficaz desses compostos nas estações de tratamento de esgoto. Métodos convencionais de tratamento, como os processos biológicos tradicionais e os sistemas de filtragem, podem não ser adequados para a remoção completa de todos os tipos de fármacos, deixando resíduos potencialmente prejudiciais no efluente tratado.

Soluções para minimizar o impacto dos fármacos em recursos hídricos

Apesar do cenário parecer desolador, existem soluções e inovações emergentes para lidar com a contaminação por fármacos nos recursos hídricos e proteger a saúde humana e o meio ambiente.

Essas soluções são essenciais para promoção da saúde humana e animal, prezando pelo bem-estar de todo ecossistema.

Algumas dessas soluções incluem:

Melhoria da infraestrutura de tratamento de água e esgoto

Investimentos em tecnologias avançadas de tratamento de água e esgoto podem ajudar a remover fármacos e outros contaminantes da água potável e de rejeitos.

Isso inclui o uso de processos como ozonização, carvão ativado granular, membranas de nano filtração e osmose reversa, entre outros, sendo mais eficazes na remoção de compostos farmacêuticos.

Desenvolvimento de novos materiais e tecnologias de remediação

Pesquisas estão em andamento para desenvolver novos materiais e tecnologias de remediação que possam adsorver, degradar ou remover fármacos nos recursos hídricos de forma mais eficiente e sustentável.

Essas pesquisas incluem o uso de tecnologias como nanomateriais, catalisadores, biofilmes bacterianos e plantas aquáticas para remover contaminantes da água.

Monitoramento e legislação mais rigorosos

A implementação de programas de monitoramento mais abrangentes e legislação mais rigorosa relacionada à qualidade da água pode ajudar a identificar fontes de contaminação por fármacos e tomar medidas corretivas para reduzir sua presença nos recursos hídricos.

Incluir regulamentações mais restritas para o descarte de resíduos farmacêuticos, controle de poluentes industriais e agriculturais, e revisão dos padrões de qualidade da água para incluir compostos farmacêuticos.

Educação e conscientização pública

A educação e conscientização pública sobre os impactos da contaminação por fármacos na água potável e nos ecossistemas aquáticos são fundamentais para promover práticas de uso e descarte seguro de medicamentos, bem como para apoiar iniciativas de conservação e proteção dos recursos hídricos.

Quando as pessoas são mais conscientes, elas descartam o lixo corretamente e diminui a presença de fármacos nos recursos hídricos.

Um exemplo de medida de conscientização, são as ações promovidas pela Brasil Health Service (BHS), como o programa Medescarte, que faz o gerenciamento do estoque a vencer nas farmácias e a gestão em resíduos de serviços de saúde.

Colaboração e parcerias entre setores

A colaboração entre governos, indústria farmacêutica, instituições de pesquisa, organizações não governamentais e comunidades locais é essencial para desenvolver e implementar soluções eficazes para a contaminação por fármacos nos recursos hídricos.

Essas soluções e inovações desempenham um papel crucial na redução da contaminação por fármacos nos recursos hídricos e na proteção da saúde humana e do meio ambiente para as gerações futuras.

Além disso, a conscientização pública sobre o impacto dos fármacos nos recursos hídricos e a promoção de práticas sustentáveis de uso de medicamentos são essenciais para mitigar esses impactos.

A presença de fármacos nos recursos hídricos deve ser controlada. Empresas e sociedade têm papel importante para o descarte correto. Aproveite e leia este conteúdo sobre: Por que indústrias precisam de um tratamento avançado de efluentes?