Empresas e indústrias produzem grandes quantidades de resíduos, e por isso precisam investir em uma gestão adequada de seus efluentes. No processo de tratamento do efluente, o lodo industrial é o que foi retirado da efluente, ou seja: é a junção de todos os resíduos orgânicos, sólidos e semi-sólidos que continham no efluente, podendo carregar substâncias tóxicas e poluentes.
Por esse motivo, o lodo industrial oferece sérios riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Dessa forma, a legislação ambiental brasileira determina que ele também seja tratado antes da sua destinação final, com objetivo de evitar ou minimizar os riscos relacionados ao descarte incorreto.
No entanto, para realizar o processo de tratamento de lodo, as empresas enfrentam desafios significativos, sejam eles técnicos, burocráticos ou sustentáveis. É sobre isso que dissertaremos a seguir, para que você entenda como funciona esse processo e tudo o que o envolve. Boa leitura!
Origem e composição do lodo industrial
O lodo industrial é composto por uma variedade de substâncias, que vão desde produtos químicos tóxicos, até partículas sólidas resultantes de processos de separação e filtragem.
Ele pode conter metais pesados, compostos orgânicos persistentes, produtos químicos corrosivos e outros elementos nocivos. Essas substâncias existem porque algumas indústrias utilizam esses materiais na composição de produtos e demais tipos de produção.
Assim, a composição do lodo varia amplamente do tipo de indústria e dos processos envolvidos nela. Dessa forma, um dos desafios do tratamento de lodo reside na diversidade de sua composição e nas diferentes abordagens necessárias para lidar com os diferentes tipos de resíduos. Existem diversos outros desafios nessa prática. É o que veremos a seguir.
Principais desafios no tratamento do lodo industrial
O tratamento adequado do lodo industrial é uma tarefa complexa devido a vários desafios intrínsecos, que são:
1. Composição variada
Como mencionado anteriormente, a composição do lodo industrial varia consideravelmente. Isso requer abordagens de tratamento personalizadas e adaptáveis para lidar com a ampla gama de contaminantes presentes. Cada tipo de contaminante demanda um tipo de tecnologia para tratar o lodo.
2. Impacto ambiental
De acordo com a Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), no artigo 48: “impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas”.
Diante disso, muitas indústrias ainda não fazem a destinação correta do lodo gerado nas ETEs e ETAs, que podem se acumular e chegar a pesar toneladas. Como vimos acima, os resíduos industriais são tóxicos e podem representar riscos significativos para a saúde humana e o meio ambiente.
Isso acontece, principalmente, quando ele é colocado, sem tratamento ou com uma gestão irregular, em aterros sanitários (como a grande maioria). O resultado é um solo infectado que causa diversas doenças na população.
Portanto, essa destinação incorreta pode gerar punições, multas e altos prejuízos financeiros, além dos sérios danos ambientais e de saúde pública. A indústria que não fizer a gestão correta do lodo pode ter suas atividades encerradas se não regularizar.
3. Volume e disposição
A quantidade de lodo gerada pelas indústrias é frequentemente substancial, o que dificulta o seu gerenciamento e disposição. Por isso, um dos maiores objetivos no tratamento de lodo é diminuir sua quantidade e seu peso, para facilitar o transporte e diminuir custos.
Encontrar maneiras de reuso do lodo também pode ser um desafio, mas um necessário para que não ocorra poluição do meio ambiente, e para que esse processo de tratamento seja mais sustentável.
4. Custos de destinação final
Os métodos eficazes de tratamento de lodo muitas vezes envolvem tecnologias avançadas e processos complexos, o que pode ser bastante caro para as indústrias. A destinação do lodo, o transporte e tudo o que envolve esse processo requer altos investimentos.
Por isso, o equilíbrio entre a eficácia do tratamento e os custos associados é um desafio significativo para diversas empresas e indústrias.
5. Tratamento adequado e avançado
Algo que acontece com frequência é que algumas empresas ou indústrias não investem no tratamento correto do lodo. Por exemplo, nos processos físico-químicos das ETEs, os floculadores e polímeros podem ser de baixa qualidade (devido a falta de recursos), resultando em etapas pouco eficientes e gerando um lodo com qualidade final inferior, podendo conter ainda patógenos nocivos.
6. Novos produtos químicos
À medida que novos produtos químicos e processos industriais são desenvolvidos, novos desafios de tratamento de lodo surgem. Manter-se atualizado com as tecnologias emergentes é essencial para lidar com esses desafios em evolução.
Tecnologias e soluções de tratamento para o lodo industrial
Conforme as tecnologias avançam, mais soluções de tratamento de lodo surgem, possibilitando a reutilização desse material ou até a redução de volume contido. Essas soluções existem para todas as etapas de tratamento, por exemplo:
- Compostagem:
Um método de tratamento de lodo que envolve a decomposição biológica controlada de resíduos orgânicos. Nesse processo, o lodo é misturado com materiais ricos em carbono, como serragem, palha ou resíduos vegetais, para criar um ambiente propício ao crescimento de microrganismos decompositores.
Com o aumento da temperatura gerado pela atividade microbiana, o lodo é gradualmente transformado em um material estável, rico em nutrientes e conhecido como composto.
Isso reduz o volume do lodo, elimina odores desagradáveis, inativa patógenos e produz um produto final que pode ser utilizado como fertilizante orgânico em solos agrícolas, contribuindo para o ciclo sustentável de nutrientes e a redução do descarte de resíduos.
- Digestão anaeróbia:
A digestão anaeróbia é um processo biológico que ocorre na ausência de oxigênio, onde microrganismos anaeróbios decompõem a matéria orgânica presente no lodo, produzindo biogás (principalmente metano) e um resíduo digerido mais estável.
O biogás gerado pode ser capturado e utilizado como fonte de energia renovável, enquanto o lodo digerido resultante é menos volumoso, com menor teor de matéria orgânica e patógenos, podendo ser mais facilmente manuseado, transportado e destinado.
Ainda existe mais uma opção, onde se envia esse digestato (lodo digerido) para a compostagem. Lá, ele será estabilizado e posteriormente, comercializado como adubo.
- Digestão aeróbia:
Modalidade para pequenas instalações, a digestão aeróbia do lodo é um processo biológico em que microrganismos aeróbios decompõem a matéria orgânica presente no lodo sob condições de oxigênio. O lodo é colocado em um reator onde é misturado com ar ou oxigênio, proporcionando um ambiente favorável ao crescimento dos microrganismos.
Esses microrganismos consomem a matéria orgânica, transformando-a em dióxido de carbono, água e biomassa. O processo então gera calor e aumenta a temperatura do reator, acelerando a decomposição.
A digestão aeróbia reduz o volume do lodo, elimina patógenos, minimiza odores e produz um resíduo estabilizado que pode ser utilizado como fertilizante agrícola ou descartado de maneira segura.
- Incineração:
Em alguns casos, a incineração do lodo pode ser uma opção viável para reduzir o volume de resíduos e destruir substâncias perigosas. No entanto, essa abordagem requer cuidados para evitar a liberação de poluentes atmosféricos. Além disso, é importante ressaltar que é uma solução onerosa.
Lodo industrial: é possível superar os desafios!
O tratamento eficaz do lodo industrial é fundamental para minimizar os impactos ambientais negativos associados à atividade industrial, e embora os desafios sejam consideráveis, as inovações tecnológicas continuam a avançar, proporcionando soluções mais eficazes e sustentáveis para o tratamento de lodo.
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